SÍNDROME DO AQUÁRIO ASSASSINO

Já lhe aconteceu de comprar um peixe que estava bonito, aparentemente saudável e se alimentando bem na loja e, ao colocá-lo no seu aquário, mesmo após uma correta aclimatação, dentro de alguns dias (ou horas) você observar que o animal não está se alimentando e parece debilitado?

Ou ainda, na mesma circunstância acima, você observar que o animal começa a ficar cheio de pontos brancos ou com a aparência de uma gosma aveludada sobre a pele?

Já lhe aconteceu de esse mesmo animal vir a morrer sem uma explicação plausível?

Pois é, comigo já aconteceu algumas vezes, e durante muito tempo eu ficava culpando os lojistas que me venderam um animal já “condenado”, ou seja: que mais dia menos dia iria morrer. Também pensei naquele tipo de captura com cianeto de potássio onde, pelo que ouvi dizer, o fígado do animal já estava comprometido e, por melhor que estivesse se alimentando e fosse boa a sua aparência, sua morte em curto período era certa.

Entretanto, algum tempo atrás, lembrei-me de um trecho do livro “As veias abertas da América Latina”, do autor Eduardo Galeano, que eu li ainda quando adolescente. Faço questão de transcrever o trecho para um melhor entendimento do artigo.

“As bactérias e os vírus foram, contudo, os aliados mais eficientes. Os europeus traziam consigo, como pragas bíblicas, a varíola e o tétano, várias enfermidades pulmonares, intestinais e venéreas, o tracoma, o tifo, a lepra, a febre amarela, as cáries que apodreciam as bocas. A varíola foi a primeira a aparecer. Não seria um castigo sobrenatural aquela epidemia desconhecida e repugnante que acendia a febre a decompunha as carnes? Os índios morriam como moscas; seus organismos não opunham defesas ante as novas enfermidades. Aqueles que sobreviviam ficavam debilitados e inúteis. O antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro estima que mais da metade da população aborígene da América morreu contaminada logo ao primeiro contato os homens brancos.”

Muito bem, na passagem acima mencionada foi a chegada dos estrangeiros que causou problemas para a população que já habitava o local; no meu aquário ocorria o inverso, pois o novo habitante é que sentia o impacto do local; embora também imaginei que um novo habitante contaminado com algo que meus animais não tivessem resistência poderia ser um problema para todo o sistema.

Assim, comecei a imaginar o seguinte: Os animais que já se encontravam em meu aquário estavam em perfeito gozo de saúde e se alimentavam bem, (não entrarei aqui em detalhes sobre a qualidade da água, iluminação, substrato, temperatura e ph, pois estava tudo dentro dos parâmetros recomendados; caso contrário os habitantes não estariam bem), e diante disso, imaginei que poderia haver alguma coisa naquele ambiente que os meus animais desenvolveram resistência e não se afetavam com sua presença.

Contudo, ao introduzir um animal não “acostumado” com os fungos e bactérias existentes naquele ambiente, parecia bastante razoável que sofreria algum tipo de impacto.

Diante disso, resolvi fazer uma experiência e comprei um pequeno aquário (capacidade para 17 litros), um aquecedor, um filtro externo (retiro o carvão ativado), um termômetro, uma lâmpada de 08 watts (compacta) com soquete e um “timer”.

Toda vez que compro um peixe, peço ao lojista que me forneça mais uns dez litros de água; ao chegar a minha casa, introduzo o animal nesse pequeno aquário, com a água que ele estava na loja, geralmente perfazendo um total de 12 ou 13 litros; daí, completo até a marca dos 15 litros com a água do meu aquário (uns dois ou três litros da água do meu aquário); ponho o pequeno sistema para funcionar, (deixo o aquecedor para uns 25, 26 graus – sempre acompanhando pelo termômetro) e vou alimentando o bichinho conforme sua fome; no primeiro dia eu deixo a lâmpada apagada e o pequeno aquário só é iluminado pela luz ambiente. Daí, preparo uns 40 litros de água para ir complementando, com o passar dos dias, a água do meu aquário que eu utilizo para ir abastecendo o pequeno aquário.

No dia seguinte, (sempre atento com os critérios de alimentação do animal), faço uma troca parcial de uns 06 ou 07 litros e fico na observação, (procuro fazer essa troca após metade do período luminoso do aquário principal, pois o PH estará em pontos mais altos). No dia seguinte, sigo a mesma rotina.

Pelo que observei esse terceiro dia e crucial, pois se o animal vier a sofrer algum impacto, é aqui que ele começa a se manifestar de forma mais visível a olho nu. Primeiramente desligo a iluminação artificial e inicio um tratamento para combater os parasitas do gênero Ichthyophthirius (Íctio), Chilodonella e Trichodina. Um tratamento que verifiquei ser muito eficaz para esse tipo de parasitas é o Verde de Malaquita associado à Sulfanilamida. A empresa Atlantys fabrica o produto e o tratamento deve ser feito seguindo as orientações do fabricante.

Se não houver a melhora do animal nas próximas 24 horas, inicio o tratamento com Sulfato de Neomicina (250 mg para cada 12,5 litros de água), onde reduzo o volume da água para a litragem necessária. A empresa Alcon fabrica o produto Labcon Bacter já pronto para o uso e nas dosagens corretas. Nos casos em que assim procedi no final do tratamento o animal já estava curado, no que eu religava o sistema de iluminação artificial. Mesmo assim, permaneço com o animal por mais 05 dias após o término do tratamento no pequeno aquário, lembrando que sempre faço trocas parciais de uns 06 ou 07 litros diariamente usando a água do aquário principal onde o animal será posteriormente introduzido.

Vou narrar uma experiência recente: Comprei um sailfin tang (Zebrassoma veliferum) que estava com ótima aparência e se alimentando bem na loja; no terceiro dia no pequeno aquário, o animal estava em péssimo estado; chegou a ficar deitado de lado no fundo do aquário quase morto; persisti no tratamento e, no quinto dia, o animal já estava nadando (ainda debilitado, mas se recuperando) e começou a comer ração (uso a New Life); adicionei ao sistema 03 gotas de Sera Fishtamim; no sexto dia o animal nem parecia que esteve doente e comia bastante. Após o décimo dia introduzi o animal no aquário principal e ele está comigo até hoje, bastante forte e saudável.

Também recentemente, comprei um flame Angel (Centropyge loriculos); no terceiro dia, apresentou alguns pequenos pontos brancos na nadadeira caudal; bastou o tratamento com Verde de Malaquita associado à Sulfanilamida da empresa Atlantys para que nenhum avanço de eventual doença ocorresse. Hoje é também um dos belos animais fortes e saudáveis que habitam meu aquário principal.

Mesmo que o peixe não apresente qualquer sintoma de doença, após o terceiro dia faço, ao menos, o tratamento com Verde de Malaquita associado à Sulfanilamida da empresa Atlantys (sempre seguindo as recomendações do fabricante). Tenho a dizer que, após a adoção desses procedimentos e um investimento de, aproximadamente R$150,00 para a montagem de um pequeno sistema (aquário hospital ou quarentena, como alguns preferem), não tive mais a perda de animais após sua introdução no aquário principal.

A propósito: Também uso o mesmo procedimento com os peixes de água doce. Esses dias atrás comprei 11 neons cardinais (Paracheirodon axelrodi); chegaram a ficar com umas pintinhas brancas no segundo dia; mas após o terceiro dia de tratamento só com o Verde de Malaquita associado à Sulfanilamida elas simplesmente sumiram.

Antes de escrever esse artigo, em conversa com o Alexandre Talarico, ele me disse que enfrentou um caso semelhante com um de seus clientes, só que aparentemente mais grave, pois ele identificou que em virtude de agentes externos a água do aquário da pessoa havia perdido suas características osmóticas, sendo que os animais que ali já estavam conseguiram se acostumar com o ambiente; mas todo animal novo que se introduzia acabava morrendo. Quem sabe um dia eu consiga convencer o Alexandre Talarico a escrever um artigo sobre esse caso e postar por aqui (rss).

Cumpre-me esclarecer que o presente artigo não tem a pretensão de ser científico no termo técnico da palavra. É tão somente o fruto de algumas experiências pessoais; entretanto, fiquei muito feliz por salvar animais que tanto estimo e resolver um problema que me deixava muito aborrecido, pois todo peixe novo que eu introduzia no aquário acabava ficando doente e morria; pois o meu sistema (não sei explicar o motivo) era portador da Síndrome do Aquário Assassino.

Também esclareço que procurei usar aqui termos bastante coloquiais para evitar os “tecnicismos”.

Por fim, não tenho pruridos se alguém melhor preparado e com conhecimentos mais técnicos quiser fazer alguma complementação, (ou até mesmo alguma retificação), no presente artigo.

Ricardo Bitencourt

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